Amigo 2: Muito FODA! Adorei a história e as personagens.
Amigo 1: Qual personagem você gostou mais?
Amigo 2: A mulher.
Amigo 1: Qual mulher?
Amigo 2: Não tem como errar, é a única mulher no filme.
Amigo 1: Mas...o que ela faz? Qual a participação dela?
Amigo 2: Ah...ela não tem muitos diálogos. Ela tá mais lá para ajudar os caras...e numa hora ela á capturada pelo vilão, o que serve de motivação pros mocinhos.
Amigo 1: Mas...o que você gostou tanto nela então?
Amigo 2: Ela é gostosa.
A representatividade feminina em filmes e em produtos de comunicação em massa sempre foi...sofrível.
Existe uma percepção na indústria de que filme com protagonistas femininas só podem ser direcionados para mulheres, e como homens são vistos como o demográfico mais rentável, a maioria das produções são homem-cêntricas, tomando o ponto de vista masculino.
Mulheres são colocadas em posições secundárias em enredos, geralmente sem uma construção forte de história. Elas não tem agência na história, estão lá para serem figuras decorativas, e as vezes, usadas como parte da estrutura do enredo, para servirem ao roteiro.
Isso se dá em muito por grande parte dos roteiristas, produtores e diretores de Hollywood serem homens, e, como "contadores de histórias", preferirem um terreno onde estão mais confortáveis, com um ponto-de-vista similar ao deles.
Não que não tenhamos personagens femininas fortes, e filmes com protagonistas femininas, mas se olharmos a topografia das produções atuais no cinema, vemos um padrão claro, que coloca mulheres em plano secundário.
Isso é um problema, como já disse no post Representatividade na mídia & as novas percepções de normalidade
Há alguns anos, foi criado o teste Bechdel, feito como uma forma de trazer atenção à essa questão.
O teste recebe o nome em homenagem à cartunista norte-americana Alison Bechdel. Em 1985, uma personagem de seus quadrinhos Dykes to Watch Out For expressou a ideia, que a autora atribuiu a sua amiga Liz Wallace. O teste foi originalmente criado para avaliar filmes, mas é também aplicado para outras mídias. Também é conhecido como o teste de Bechdel/Wallace, a regra de Bechedel, a lei de Bechedel ou a Medida de Filme Mo.
O teste é bem simples, e faz apenas três perguntas sobre o filme, ou produto de comunicação de massa em questão:
- O filme tem pelo menos duas personagens femininas nomeadas?
- Elas conversam uma com a outra?
- Sobre alguma coisa que não seja um homem?
O pior é que, algumas obras que falham no teste são aquelas sobre mulheres e/ou destinadas ao público feminino.
A série de televisão Sex and the City destaca seu próprio fracasso em passar no teste ao mostrar uma de suas personagens principais perguntando: “Como explicar que quatro mulheres inteligentes não tenham nada para falar que não seja sobre namorados? É como se fossemos garotas da sétima série com contas bancárias!”
Segundo Neda Ulaby (*), o teste ressoa porque “ele articula algo que frequentemente falta na cultura popular: não o número de mulheres que vemos na tela, mas a profundidade de suas histórias, e sua gama de interesses”
Contudo, passar no teste não significa que a obra seja feminista, e não passar, não significa que o filme não tenha uma personagem feminina forte. Um exemplo recente de uma falha no teste Bechdel é "Gravidade", filme protagonizado por Sandra Bullock. O filme é exclusivamente dela, quase não contendo outros atores, mas falha também ao teste.
Em uma tentativa de analisar quantitativamente o quanto as obras passam ou não no teste, pelo menos um pesquisador, Faith Lawrence, observou que os resultados dependem de quão rigorosamente o teste é aplicado. Uma das questões decorrentes da sua aplicação é se a referência a um homem em qualquer momento da conversa, que também abrange outros assuntos, invalidaria toda a troca de informações. Se não, fica a questão de como definir o início e o fim da conversa.
Existem outras formas de medir a presença feminina em filmes, como o teste Mako Mori, que mede a construção da personagem, e não interação entre personagens.
*- Ulaby, Neda. "The 'Bechdel Rule,' Defining Pop-Culture Character", All Things Considered, National Public Radio, 2008-09-02. Página visitada em 2015-07-30.