Sobre Reboots, Micheal Bay & Walter Benjamin

Por essas semanas li uma reportagem afirmando que veríamos um reboot de "Xena: A Princesa Guerreira" na nova temporada de estréias de 2015 (**). 

Para quem não conhece, Xena foi um seriado, produzido entre 1998 e 2001, e protagonizado pela personagem título Xena. O seriado, um spin-off (*) do seriado Hercules, acompanhava as aventuras de Xena, enquanto batalhava criaturas míticas e vilões do passado.

Essa notícia para mim, aponta duas tendências claras em Hollywood: Não existem mais idéias originais, e, qualquer propriedade, seja ela boa ou ruim, pode ser reaproveitada.

Antes de mais nada, precisamos definir a diferença de um reboot para uma renovação, ou uma sequência.

Enquanto uma renovação ou uma sequência se passa dentro da mesma narrativa estabelecida, o reboot existe para apagar tudo que veio antes e começar novamente.

Por isso muitos fãs ODEIAM o reboot. Ele basicamente fala: "Sabe tudo que vocês amam sobre determinado seriado e personagens? Não aconteceu!"


Para exemplificar:

  • O novo seriado Heroes Reborn vai ser uma sequência do seriado Heroes. Ele dará continuidade a narrativa estabelecida. As personagens viveram aquelas aventuras, e muitos deles retornarão.
  • A nova série Star Trek no cinema é um soft-reboot, pois ela faz menção aos seriados e filmes antigos, mas mostra que estão aos poucos reescrevendo aquela história.
  • Os filmes do Homem-Aranha com Andrew Garfield foram um reboot dos de Tobey McGuire, já que tudo que aconteceu anteriormente foi esquecido. E VAI SER ESQUECIDO DE NOVO, agora que a Marvel tomou posse do Homem-Aranha, com o Asa Butterfield como o personagem titular.
  • James Bond, o espião 007, tem também uma continuidade...flexível. Apesar de não sofrer reboots claros (***) , a personagem não guarda muita continuidade entre um filme e outro, nem entre um ator e outro.

Essa febre nostálgica (****), além de ser (1) preguiçosa, e (2) enfadonha - uma vez que acabamos apenas revivendo histórias já contadas - , é também (3) ineficiente.

Ao querer se aproveitar de uma franquia lucrativa do passado, estúdios parecem se livrar de tudo que tornou a propriedade cativamente, pasteurizando o produto, para potencializar seu consumo, tornando-o irreconhecível para fãs do passado.

Os filmes dos Transformers e Tartarugas Ninja, realizados pelo infame Micheal Bay, foram feitos para capitalizar das lembranças positivas do público mais velho, reembrulhado em um pacote visualmente estimulante para os jovens de hoje em dia. 

O que recebemos, contudo, é algo que falha em evocar qualquer emoção, com roteiro e direção fracos, e uma estética artificial, baseada em explosões e CGI.

Os filmes falham em estabelecer o link emocional necessário para fazer a ponte entre as gerações. 

Talvez seja como Walter Benjamin dizia em "A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica". Esses produtos do passado possuem uma "aura", e seu apelo nostálgico está conectado com essa singularidade. E quando tentamos reproduzir essa sensação, isso se perde na tradução, na diluição dessa alma inicial.
  
(Ou talvez eu esteja errado, já que esses filmes fazem muito dinheiro).


*-Spin-off é um produto de mídia popular originado por outro. Esses dois produtos apresentam elementos narrativos em comum, sejam eles personagens, ambiente, ou contexto.

**- (Lucy Lawless, atriz quem deu vida à heroína, desmentiu os rumores do reboot. Lucy, como todos sabem, tem o poder de voar, diferente da personagem Xena);

***- Os filmes de Daniel Craig parecem ter sido o primeiro reboot claro que a série de filmes sofreu, mas mesmo assim, vemos atores que continuaram seus papéis, então, mesmo assim, não tão claro. 

****- Nostalgia é um termo que descreve uma sensação de saudade idealizada, e às vezes irreal, por momentos vividos no passado associada com um desejo sentimental de regresso impulsionado por lembranças de momentos felizes e antigas relações sociais.