Os problemas da retórica como ferramenta de venda de idéias

Segundo o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), existem três aspectos fundamentais na retórica. São eles: ethos, pathos e logos.

Ethos refere-se às características do orador que podem influenciar o processo de persuasão, como a sua autoridade, honestidade e credibilidade em relação ao tema em análise.

O Pathos refere-se ao apelo ao lado emocional do público-alvo. Para isso, é imprescindível ter um conhecimento antecipado de como comover o público.

Finalmente, o Logos diz respeito ao conteúdo do discurso, ao uso da lógica. Isto é, à forma como a tese é apresentada e à força dos seus argumentos.

A Retórica está presente na Publicidade essencialmente pela presença de duas dimensões: a dimensão argumentativa e a dimensão oratória. A dimensão argumentativa está relacionada com a utilização de argumentos racionais, ou seja, numa fundamentação persuasiva, em que o logos (a palavra) assume um papel fundamental.

A dimensão oratória caracteriza-se pela utilização de marcas não racionais ( o ethos e o pathos). Quando a emotividade remete para o polo do orador estamos no domínio do ethos, quando a emotividade remete para o polo do destinatário estamos no domínio do pathos.

A professora Deirdre McCloskey faz um link interessante sobre o poder da retórica. Ela discute o uso de persuassão como uma alternativa para a violência.


Segundo a professora, em uma sociedade "livre", temos duas opções: nos submeter a idéias, ou a pauladas. Infelizmente, se submeter é a única alternativa.

Contudo, dependendo do conteúdo que está sendo vendido, isso pode ser extremamente nocivo.

Se a retórica opera tanto na lógica quanto no emocional, ela pode acabar nos vendendo idéias que não queremos comprar...

Tome como exemplo essa propaganda:

http://jornalggn.com.br/sites/default/files/u16/captura_de_tela_2013-10-04_as_12.50.17.png

O discurso publicitário, por ser persuasivo, tem um grande poder sobre o público. Sua aplicação dá poder a quem se utiliza dele. A publicidade tem um papel importante na nossa cultura, pois promove a troca simbólica de ideias, produtos e serviços.

A propaganda apresentada tem como objetivo real vender a nova cerveja escura da Devassa,  contudo, ela vende mais que isso.

Vemos o uso da metonímia, a mulher negra é trocada pela bebida e vendida como tal.

O uso da mulher como objeto não é nada novo em publicidade. Vemos exemplos constantes na propaganda:


Além do machismo presente, também vemos o obvio racismo inerente, em apresentar uma mulher negra como objeto de compra. E nós estamos passivamente comprando essas idéias, junto com os produtos.

A forma implícita como esses elementos são apresentados demonstra o quanto está enraizado o problema no Brasil. Não é o caso de um discurso de ódio, é parte da cultura onde estão inseridos esses anúncios.