Nerds X Hipsters: Capital Cultural & Iconografia tribal

É engraçado. Me lembro na minha juventude de assistir na sessão da tarde filmes como "Vingança dos Nerds" e pensar que ser nerd deveria ser a pior coisa do mundo. Eles eram retratados como seres socialmente retardados, dignos de pena.

Porém, vivemos num mundo "Big Bang Theory". Ser Nerd não só é aceitável. É quase norma.

Para preencher a lacuna de pária social, rótulo que ninguém deseja receber, foi criado uma nova categoria tribal: O Hipster. E não existe coisa pior no mundo que ser nomeado hipster. 
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Hipster é um termo frequentemente usado para se referir a um grupo de pessoas pertencentes a um contexto social subcultural da classe média urbana. A cultura hipster faz parte da variedade de subculturas que coexiste com a cultura mainstream.

A cultura hipster é marcada pela música independente, saudosismo recorrente, uma variada sensibilidade para a tendência non-mainstream (não comum, não recorrente) e estilos de vida alternativos. Os interesses referentes à mídia por esse grupo incluem filmes independentes, revistas e websites notadamente relacionados à música alternativa.

A cultura hipster tem sido descrita como um "mutante caldeirão transatlântico de estilos, gostos e comportamentos".

Então, por que tanto ódio aos hipsters? 


http://cdn.mundodastribos.com/607539-Estilo-hipster-roupas-e-acess%C3%B3rios.2.jpgBem, é simples. Enquanto hipsters clamam interesse por diversos elementos das mais diversas subculturas, eles não celebram esse interesse. Eles se utilizam desses ícones de forma irônica.

Se a ironia é o éthos de nossa época – e ela de fato é –, então o hipster é o nosso arquétipo do estilo de vida irônico.

E esse é o grande divisor de águas entre o Nerd e o Hipster. O Nerd celebra as coisas que ele gosta de forma efusiva. Existe uma ingenuidade no amor nerd, enquanto o Hipster carrega toda sua iconografia com um certo desprezo.

E isso é provavelmente o que causa o repúdio de outras tribos  à figura do Hipster. A chacota que ele faz dos interesses genuínos de outras subculturas.

Vemos as escolhas dos hipsters mais como performances do que como naturais. 

Segundo o sociólogo Pierre Bourdin, os nossos signos sociais possuem poder, que ele chama de "Capital Cultural".


Para Bourdin, objetos ou ícones sociais carregam valor a eles atribuídos. Utilizar deles, portanto, lhe dá status. Esse status, contudo, claramente é interpretado de forma diferente dependendo do grupo social pertencente. Para que um elemento seja aceito por diversos grupos como status, é uma batalha.

Essa luta simbólica decide o que é erudito ou popular, de bom ou de mau gosto. Dos elementos vitoriosos, formam-se o habitus e o código de aceitação social.

E, enquanto a maioria das subculturas têm de lutar pra ser percebida e adquirir valor para seus ícones, hipsters agem como bucaneiros, roubando e fazendo pastiches do que melhor funciona.

Eles estão, metaforicamente, usufruindo do valor cultural da iconografia, sem tomar parte do contexto e conteúdo da mesma.