Sobre Gênero, brinquedos e machismo

Desde cedo, somo ensinados que existem coisas de menino e coisas de menina. Essa dicotomia mais tarde evolui para comportamentos e interesses distintos.

Todos os aspectos sociais humanos são divididos por essa linha imaginária. Elas vão desde atividades cotidianas até alimentação (quem nunca ouviu que salada é comida de mulherzinha?).

Somos levados a crer que essas distinções existem e são genéticas, naturais e inerentes ao ser humano. Isso é falso.

Todas essas distinções são doutrinas, ensinadas e enforçadas desde que nascemos. São parte da cultura vigente, e variam com o tempo.

  • Até os anos 20, rosa era considerado uma cor mais masculina, e azul, mais suave, era visto como feminino. Contudo, ambas as cores eram usadas para bebês dos dois sexos. Foi só por volta de 1930 que a indústria começou a sugerir azul para eles e rosa para elas, como forma de agitar as vendas. Foi apenas um golpe de marketing.

  • Até o fim do século 19, vestido era visto como uma peça para crianças pequenas de ambos os sexos, pois facilitava os movimentos e a higiene.
  • Mulheres só começaram a poder usar calças após a revolução industrial, e mesmo assim era visto como bastante ousado.
Uma pesquisa de 2010 feita pela Universidade de Cambridge com bebês de 1 ano mostrou que quase a mesma quantidade de meninos e meninas indicava preferência por bonecas. A partir dos 2 anos, os garotos passavam a curtir carrinhos. A conclusão do estudo foi a de que o gosto por brinquedos é adquirido socialmente, e não algo inato.

Todas as nossas noções de gênero atribuídas a ações são fruto de condicionamento social, ditado por uma cultura predominantemente machista.

Portanto, atividades relacionadas ao lar são vistas como femininas, pois reafirmam preconceitos, enquanto atividades mais urbanas ou boêmias, são masculinas. "Moças de família não bebem".

Recentemente, assisti uma série de vídeos, feitos  por Anita Sarkeesian* sobre a empresa Lego e sua incapacidade de conectar com o público feminino. Ela atribui essa falha não a uma questão de gênero, como a empresa gosta de afirmar, mas sim ao marketing falho da empresa.



Um artigo de Harvard sobre o assunto parece concordar com ela, dizendo que esse problema parece ser institucional, uma vez que mulheres são quase inexistentes no quadro executivo da empresa.

Em abril desse ano, o New York Times fez uma matéria sobre a unissexualização de brinquedos, e que a divisão de gêneros para artigos infantis trabalha para reforçar preconceitos e estereotipos.

Se queremos reduzir barreiras de gênero e o machismo que existe em nossa sociedade, uma boa forma seria prestarmos atenção no que estamos ensinando para crianças quando dizemos que meninos não brincam com bonecas, e sim com carrinhos.

 

* - Anita Sarkeesian é uma video-logger, com foco feminista. Ela já foi criticada e atacada por suas opiniões sobre a indústria dos games e o teor machista do conteúdo de muitos jogos.