Muitos veem a publicidade como algo corrompido e sujo, que tira a credibilidade e prestígio dos programas. Contudo, o que poucos sabem é que toda a programação televisiva é criada e sustentada pelos anúncios.
A propaganda é uma atividade humana que já existe desde a Grécia antiga. O termo em si, contudo, se originou do nome “Sacra congregatio christiano nomini propaganda” (Sagrada Congregação Católica Romana para a Propagação da Fé), o departamento da Igreja Católica para divulgação do Catolicismo em vários países, com os missionários.
Com o desenvolvimento da tecnologia, surgiram os primeiros aparelhos de televisão e, com eles, as propagandas voltadas aos telespectadores, os comerciais de TV.
Inicialmente, programas eram diretamente patrocinados pelos anunciantes, ostentando os nomes dos produtos em seus títulos.
O nome dado para novelas em inglês demonstra bem isso: "Soap Operas".
Um exemplo da associação de produtos patrocinadores com programas é o do programa Bat Masterson, um western americano, que era patrocinado no Brasil pelo sabonete Cinta Azul. Tal era essa proximidade de patrocinador e marca que a música de abertura tinha o nome do sabonete na letra.
Com o tempo, contudo, vemos esse link se tornar cada vez mais velado, com anúncios, em sua maioria, sendo relegados ao famoso intervalo comercial.
Essa separação de conteúdo e venda permitiu "liberdade criativa" para as emissoras. A programação fica à cargo dos produtores de conteúdo, e agências compram espaços de anúncio atrelado ao público que aquele conteúdo atrai.
Contudo, por mais que pessoas não gostem de pensar nisso, o conteúdo televisivo está lá para vender espaço comercial. O entretenimento do público é um meio para isso, não o objetivo.
Com o advento da televisão digital, e de programação por demanda na internet, a estrutura televisiva, e essa separação, parecem estar com os dias contados.
Não mais assistimos tv em horários fixos, nem tampouco temos paciência para comerciais.
Anunciantes, antes relegados aos intervalos, agora retornam para compor o conteúdo. Só que, se antes eles estavam no título, agora aparecem de forma mais sutil.
Estão na mesa do café, na garagem da personagem, na bancada do banheiro. É o famoso merchandising editorial (ou Tie In, ou mais recentemente Product Placement), quando o anúncio faz parte do conteúdo.
O product placement é uma atividade que precisa de uma certa regulamentação, pois para públicos infantis ou ignorantes (e o Brasil tem bastante dos dois) essa “propaganda” pode ser utilizada como uma espécie de propaganda subliminar.
Pegue por exemplo o filme "Naufrago". Temos por toda parte a empresa FEDEX, onde a personagem principal trabalha. Ela é parte importante de todo plot do filme. Temos também a bola Wilson. Ele é uma personagem coadjuvante, servindo de contraponto emocional para o personagem de Tom Hanks. Ambas essas inserções são merchandising editorial, e são parte da estrutura narrativa do roteiro.
Esse formato é extremamente eficiente em persuadir. Como já falei em outro post, nós somos muito vulneráveis para retórica, ainda mais quando ela está apresentada de forma sutil dentro de uma narrativa.
Dentro dessa nova estrutura de publicidade, tudo o que é usado, consumido e falado por um personagem pode ser uma propaganda.
Existe espaço ilimitado para marcas fazerem sua presença, e de produtores de conteúdo fazerem dinheiro com o que sabem fazer melhor: Vender sua atenção.