Temos um personagem masculino que está fazendo sucesso com os meninos, e agora queremos ter apelo para o público feminino. Devemos nos esforçar em criar uma personagem nova, com características, personalidade e história que permita que meninas se identifiquem?
Não. Vamos apenas criar uma contraparte feminina para a versão masculina.
Essa é uma trope conhecida em veículos de mídia. Aparentemente, tudo que as meninas querem é uma versão transexual dos heróis masculinos para chamar delas. [/ironia]
Já falei sobre os problemas da representatividade feminina na mídia. A contraparte feminina existe mais como exemplo que prova a regra que uma excessão.
Assim como personagens femininas tendem a ser definidas por seus relacionamentos com os personagens masculinos, as contrapartes são definidas por seus relacionamentos com o personagem origem. Ou seja, ela não tem agência em suas aventuras, sendo relegada ao papel secundário de irmã, namorada ou prima do verdadeiro protagonista.
Isso propaga a idéia de que o homem é o padrão e a mulher é uma variação do padrão (um texto maneiro sobre isso nesse link). Mulheres são apenas variações do herói com uma saia, ou então, com vestido rosa.
Isso dito, não podemos negar que existem exemplos de personagens "contraparte feminina" que são interessantes, e evoluíram de seu modelo simples para personagens complexos.
Seguem alguns exemplos mais memoráveis de contrapartes femininas:
1) Minnie (Minerva) Mouse
A primeira e provavelmente mais famosa contraparte feminina criada. Acho que a existência da Minnie comprova um claro narcisismo do Mickey, afinal, ela é exatamente igual a ele, tirando a saia e o laço.
Até hoje Minnie não possui uma personalidade muito definida, mas Mickey também não.
2) Supergirl & Batgirl
Ambas são claras versões femininas dos mais conhecidos heróis dos quadrinhos, mas Batgirl não nasceu nas páginas e sim no famoso seriado dos anos 60.
Alias, quadrinhos são um berço de muitas versões desse padrão de montagem por troca de sexo. Mulher-Hulk, Mulher-Aranha, vemos diversas versões femininas de personagens masculinos. O contrário não é tão ocorrente.
3) Lolla Bunny
Interessante notar que, enquanto a Disney sempre se utilizou deste trope, a Warner Bros não apresentava muitas contrapartes femininas para suas personagens.
Alias, tirando a Vovó do Piu-Piu, a Warner não tinha nenhuma personagem feminina recorrente.
Talvez por isso eles tenham sentido a necessidade de criar Lolla Bunny, para o filme Space Jam. Ela não só é uma contraparte feminina para o Pernalonga, como também sofre de Síndrome de Smurfette.
4) Xena - A princessa Guerreira
Nasceu como um spin-off the Hercules, com mesma equipe de produção, e seguindo a mesma estrutura narrativa.
Contudo, Xena é vista pela história como um produto melhor que seu "molde".
5) Amy Farrah Fowler (Big Bang Theory)
Amy nasceu como uma contraparte feminina para Sheldon, mas aos poucos os escritores foram lhe dando uma personalidade própria.
6) She-Ra
Irmã gêmea do He-man, She-Ra apresenta todos os fatores de uma contraparte feminina. Sua existência é apenas uma versão cor de rosa para o do He-Man, e até mesmo os vilões dela são contrapartes para os dele.