"Uma imagem vale mil palavras" - provérbio chinês.
Quando viajamos,
um dos hábitos mais comuns é de retratar a jornada com fotos. Afinal, somos uma
sociedade visual, e gostamos de ter o imagético para ilustrar nossas histórias
incríveis.
Hoje é ainda
mais fácil, com smartfones, wifi e aplicativos como Instagram. Mais do que apenas documentar, agora nos
tornamos correspondentes internacionais, com centenas de espectadores em tempo
real.
Em muitos casos,
fotografia e compartilhamento se tornou mais importante que viver a
experiência. Estamos viajando com
imagens, ou PELAS imagens? E as
histórias que estamos contando são reais, ou fabricadas?
Fotografia (do grego φως [fós]
("luz"), e γραφις [grafis] ("estilo",
"pincel") ou γραφη grafê, e significa "desenhar com luz e
contraste". Fotografia mudou nossa forma de relacionar com
imagem, com o tempo, e com narrativa.
A introdução da tecnologia digital tem modificado drasticamente
os paradigmas
que norteiam o mundo da fotografia. A simplificação dos processos de captação,
armazenagem, impressão e reprodução de imagens têm ampliado o uso da
imagem fotográfica nas mais diversas aplicações.
Fotografia se tornou o meio para se retratar o
cotidiano, o dia a dia, as pessoas. Um fotógrafo, mais que apenas um documentador, é um narrador. Ele conta histórias com imagens.
E com toda essa
facilidade, tirar fotos e compartilha-las ao viajar tornou-se quase como uma
obrigação.
É melhor tirar fotos, ou
não aconteceu!
Postar fotos no
Instagram parece dá-las mais significância, ao torna-las parte de uma rede de
imagens interligadas.
Contudo, autores como Baudrillard (1995), Calvino
(1990) e Jameson (1996) analisam as implicações da proliferação de imagens e
signos sobre a sensorialidade humana.
Eles falam que as imagens geram uma distorção da
realidade. Essa relação é chamada de hiper-realidade.
Em semiótica e na filosofia pós-moderna,
o hiper-realismo (não confunda com surrealismo)
é um termo para descrever um indício de uma expansão da cultura
pós-moderna.
A hiper-realidade é um meio de caracterizar a via das
interações conscientes com a "realidade".
Especificamente,quando uma consciência
perde sua habilidade de distinguir a realidade da fantasia, e
passa a se relacionar com ela, posteriormente, sem dispor da compreensão
que ela requer, de modo que acaba por ser deslocado para o mundo do hiper-real.
Baudrillard em particular sugere que o mundo em que
vivemos foi substituído por um mundo-cópia, no qual vivemos cercados por um simulacro de ordem estimular e nada
mais.
A cultura do compartilhamento de imagens, intensificada
por aplicativos como o Instagram e redes sociais como Facebook, empregam essa
hiper-realidade.
As viagens que temos pelas imagens não são
necessariamente reais, são a versão otimizada, editada, com filtro, de nossas
reais viagens.
Em vez de vivermos os momentos, perdemos nosso
tempo fabricando uma versão idealizada deles, que será consumida por terceiros.
Nos tornamos personagens de uma narrativa, e não mais viajantes.
E, à
medida que construímos essa narrativa, com suporte fotográfico, ela substitui o
que de fato aconteceu, e se torna o real.