A palavra de Gay

Homossexualidade é uma parte natural da sociedade, e sempre existiu, de uma forma reprimida, ou não, ao longo dos séculos.

Então, várias formas artísticas, buscando emular a natureza humana e a "vida como ela é", trataram de retratar a vida de personagens homoafetivos ao longo dos séculos.

Contudo, devido à censura, nem sempre isso pôde ser feito às claras. Muitas vezes, devido ao conservadorismo da sociedade, isso só pode ser feito através de "coding".

Essa expressão "coding" se dá pelo antigo Código de produção do cinema Americano, que proibia a identificação de um personagem como gay ou lésbica. O personagem então, apresentava trejeitos, algo que hoje chamaríamos afetações, ou estereótipos, para identificá-lo, sem expressar as palavras.


Um documentário que fala bastante dessa época em Hollywood é The Celluloid Closet, de 1995, com entrevistas com atores, produtores e diretores.

Esses personagens estereotipados, apesar de oferecerem um nível de "percepção" do público foram nocivos para a comunidade gay como formas de representação, pois geraram no público geral a idéia de que, se uma personagem não apresenta nenhum maneirismo, e nada for falado, ela é automaticamente heterossexual.

Isso porque temos uma percepção heteronormativa, que sugere que nossa cultura deve ser produzida para os olhos de uma maioria, e que histórias devem ser contadas para esse ponto de vista. Por isso vemos mais histórias contadas pelo ponto de vista do homem branco, enquanto outros protagonismos, o de mulheres, ou negros, ou gays, são relegados ao periférico e independente.

Contudo, como havia falado antes, a indústria aprendeu a usar de códigos para permitir colocar personagens LGBT em narrativas, sem expressar isso claramente. Essa se tornou uma trope chamada "A palavra de Gay".

A expressão vem de "A palavra de Deus". A sexualidade da personagem é apenas revelada pelo autor à posteriori, ou seja, torna-se canônica.  

Muitos veem essas revelações com maus olhos, pois só funcionam em retrospecto, quando a obra já está finalizada, e quando não houve nenhuma revelação sobre isso dentro do filme ou livro.

Um exemplo claro disso é Dumbledore, o mago gay que nunca teve nenhum par romântico, nem demonstrou em momento algum sua sexualidade. Ela só foi revelada depois pela autora, em uma entrevista, quando a informação não poderia mais afetar suas vendas.

http://www.rhbn.com.br/uploads/docs/images/images/ben-hur%203(1).jpgContudo, existem casos em que essa informação pode ser interessante, como no caso de Ben Hur. Gore Vidal, o diretor do filme, revelou que os personagens de Ben Hur e Messala haviam tido um caso quando jovens. O ator que fazia Messala sabia do fato. Charlton Heston não foi avisado, pois Gore Vidal sabia que ele não aprovaria. Assistir ao filme com essa informação altera a experiência, pois vemos os olhares que Messala lança para Ben Hur à todo momento.

O ator que faz a voz de Timão em "Rei Leão" afirmou que ele e Pumba são o primeiro casal Gay da Disney, outra exposição pós-filme.

Sophie Turner, a atriz que interpreta Sansa, de Game of Thrones, afirmou que a personagem "corta para os dois lados", e que ela tinha um "crush" em Margaery.

Outra personagem bissexual é o capitão Jack Sparrow, de Piratas do Caribe, de acordo com o ator Johnny Depp, que o interpreta.

Contudo, vale lembrar que essas colocações são imateriais se nada será feito sobre isso em tela. Lembre-se que o valor de representação só existe se ele está expresso na arte, e, diferente de etnia, representação homoafetiva não tem o luxo de poder ser sutil.