Na tragédia grega clássica, segundo os preceitos aristotélicos, tal efeito é gerado através de uma narrativa que supõe a imitação de ações da vida humana levando a uma identificação do público com o enredo ali apresentado
A identificação ocorre baseada numa no jogo de mimética representativa daquilo que se assemelha às experiências reais ou simbólicas da platéia. Basicamente, as personagens se tornam dublês do público dentro da história.
Quando assistimos um filme ou um seriado, buscamos identificação com o protagonista num nível subconsciente, e isso é base para o sucesso desse produto. Quanto mais nos colocamos no lugar deste protagonista, mais a história ressoa, mais atenção damos à trama, e isso aumenta nosso senso de aprovação.
E como garantir esse sucesso? Tornar o protagonista uma tela em branco, ou tábula rasa.
Isso é baseado no processo de iconografia. Quanto mais simples e branda é uma representação, mais fácil é a identificação dela.
Por exemplo, em um banheiro, encontramos a representação mais simples de um homem e uma mulher. Isso acontece por que aquele ícone existe para representar todos os indivíduos cis daqueles gêneros. Ou seja, todos os homens devem se identificar com o ícone masculino e todas a mulheres com o feminino. Para isso, ele deve ser um elemento brando.
Esse conceito de "tábula rasa" para desenvolvimento de personagens protagonistas aparece constantemente no cinema.
Vemos em filmes como Matrix, Harry Potter e Guerra nas Estrelas. Temos personagens carismáticos, heroicos e capazes, mas o protagonista não é nada disso. Ele é normalmente alguém não muito notável, que foi descoberto como sendo especial.
O protagonista existe na trama como uma fantasia, que vestimos para entrar na história, e ter aventuras ao lado de Han Solo, ou Ronny & Hermione.
E para que esse arquétipo do herói funcione, ele não pode ter muitas nuances, ou personalidade. Como o ícone no banheiro, ele deve ser simples, direto, para que nós possamos preencher essa lacuna com nossos próprios pensamentos e maneirismos.